O Projeto Sementes Brilhantes é uma tecnologia educacional multidisciplinar que promove o desenvolvimento saudável e integral das crianças de 0 a 4 anos, por meio de atividades extracurriculares semanais relacionadas a psicomotricidade, a sensibilidade musical e ao pensamento artístico. Mais de 2480 crianças já se beneficiaram deste programa na última década em dois centros de desenvolvimento da criança em São Paulo, pertencentes à iniciativa privada (www.stepsbabylounge.com.br). Com vistas a levar essa tecnologia às crianças que mais poderiam se beneficiar da mesma, o programa foi adotado em três Centros de Educação Infantil (CEIs), ligados à Associação Santo Agostinho (ASA) e conveniados com a prefeitura, localizados em áreas de vulnerabilidade e violência no município de São Paulo (os CEIs se localizam nos bairros do Caxingui, Paraisópolis e Jardim Éster).
Esse programa multidisciplinar é composto por três módulos/equipamentos desenvolvidos por especialistas em desenvolvimento infantil a fim de estimular as funções cognitivas e não cognitivas nas crianças. Quando realizada semanalmente, de forma integrada, eles estimulam vias neurais no córtex pré-frontal, formando “blocos de construção” para a melhoria da função cognitiva. Esses módulos são descritos abaixo:
- Psicomotricidade: classes baseados em circuitos com foco no desenvolvimento de habilidades motoras bruta/fino, tônus muscular, flexibilidade, ritmo, equilíbrio, coordenação, agilidade, estimulação tátil, lateralidade e conscientização do corpo.
- Sensibilidade musical: uma variedade de experiências que estimulam a percepção sensorial, aquisição da linguagem, ouvindo as habilidades, exploração rítmica, noção de espaço-tempo e equilíbrio socioemocional.
- Pensamento artístico: aulas que estimulam a exploração sensorial, desenvolvimento de conceito, habilidades sociais, desenvolvimento da linguagem, causa e efeito, memória visual e discriminação tátil.
No desenho de avaliação do Projeto Sementes Brilhantes, implementamos o tratamento através de treinamento supervisionado das profissionais das próprias escolas, visando simular o contexto em que as atividades poderiam ser eventualmente escalonadas. Em princípio as escolas deveriam ser capazes de realizar as atividades com seus próprios recursos humanos. Nessa fase piloto, houve duas escolas de tratamento, que receberam dosagens distintas de supervisão após o treinamento inicial. Na escola Centro de Educação Infantil (CEI) Lar Infantil a equipe que criou a intervenção fazia visitas mensais para averiguar se as atividades estavam sendo realizadas da forma originalmente proposta, ao passo que na escola CEI Santo Agostinho as visitas eram semanais. Além disso, será possível verificar o efeito médio de tratamento do programa sobre diversos indicadores de desenvolvimento infantil ao longo do tempo, uma vez que após a exposição ao tratamento os alunos foram avaliados por quatro vezes.
A avaliação da implementação piloto do Projeto Sementes Brilhantes consiste em uma estratégia de identificação baseada em efeitos fixos, na qual as crianças do grupo de controle representam qual seria o desenvolvimento das crianças que receberam o tratamento caso não tivessem recebido tratamento. Para tanto, informações sobre os alunos matriculados nas três escolas que compõe a amostra foram coletadas em seis pontos do tempo. Dois deles ocorreram antes do início do tratamento (1º Baseline e 2º Baseline) e mais quatro coletas de dados ocorreram após o início da intervenção (1º Follow Up, 2º Follow Up, Campo dos Pais e 3º Follow Up).
Uma característica importante do projeto é que a atribuição dos alunos que seriam tratados não foi feita por meio de uma aleatorização. Um dos motivos disso é que como três CEIs haviam aceitado participar da pesquisa, a única maneira de viabilizar uma aleatorização seria realizar o sorteio dentro das creches, sendo que algumas crianças de cada creche participariam da intervenção enquanto outras não. Esse desenho de intervenção, no entanto, possuía várias desvantagens, pois estava sujeito ao problema de contaminação do tratamento, dado que as professoras das crianças que participariam da intervenção teriam contato recorrente com as demais. Nessas ocasiões, seria muito natural haver troca de informações entre elas sobre o projeto, que poderia enviesar os resultados da avaliação de impacto.
Nesse sentido, optou-se por atribuir o status de tratamento ou controle para as creches como um todo, justamente para minimizar o risco de contaminação. Para a realização dessa avaliação de impacto, foram definidos dois tipos de intervenção: i) a CEI Santo Agostinho recebeu a intervenção e a equipe da Steps realizava visitas semanais à creche para monitorar e orientar a realização das atividades; ii) a CEI Lar Infantil recebia as visitas com periodicidade mensal. A CEI São Francisco não recebeu a intervenção, sendo o grupo de controle.
A ideia de realizar dois tipos de tratamento reside no fato de que, se pensarmos em um escalonamento futuro dessa intervenção, o desenho que envolve visitas mensais, ou seja, um menor monitoramento por parte da equipe de formação da Steps, deve ser o mais viável e provável de ser adotado na prática.