Quão importante é a educação?

21 de agosto de 2019 // Blog

A educação de crianças e jovens é um processo extremamente complexo que ocorre nos mais variados ambientes e ocasiões. Seja no ambiente familiar, em momentos de lazer ou dentro da escola, a educação se apresenta como um forte mecanismo de transformação social, gerando oportunidades, combatendo desigualdades e promovendo o desenvolvimento humano. Por esse motivo, diversos pesquisadores de diferentes áreas desenvolveram e desenvolvem estudos a fim de entender a fundo como esse processo ocorre e verificar quais os verdadeiros impactos da educação sobre a vida das pessoas e sobre a sociedade como um todo.

Os economistas, por exemplo, sempre estiveram preocupados em explicar as razões pelas quais pessoas diferentes obtém resultados distintos ao longo de suas vidas. Adam Smith, considerado por muitos como “o pai da economia”, já alertava para a influência do que ele chamava de “destreza melhorada” na produtividade dos trabalhadores, adquirida através da educação, estudo ou aprendizagem, em A Riqueza das Nações (1776). Entretanto, foi apenas durante os anos 60 do século passado que Gary Becker e outros economistas ligados à escola de Chicago desenvolveram a chamada Teoria do Capital Humano. Em suas primeiras versões, essa Teoria propunha que, ainda que as pessoas nascessem bastante semelhantes nos termos de seus potenciais e capacidades, alguns podiam investir mais que outros no desenvolvimento de suas habilidades, atingindo, desse modo, melhores indicadores de bem-estar na vida adulta.

Nesse contexto, Jacob Mincer elaborou a famosa equação minceriana em 1974, propondo que indivíduos mais escolarizados tendem, em média, a ter salários mais elevados, dado que, a medida em que o indivíduo se educa, sua produtividade aumenta. Entretanto, os retornos da educação não estariam restritos apenas a retornos salariais. Trabalhos recentes de pesquisadores influentes, como James Heckman, indicam que a educação tem importante papel para a redução de comportamentos de risco, tais como criminalidade, envolvimento com drogas ou gangues e gravidez na adolescência. Além disso, estes trabalhos também têm mostrado que a própria educação não pode ser restringida aos aspectos cognitivos do desenvolvimento, destacando a importância do aperfeiçoamento das chamadas competências socioemocionais (perseverança, organização, disciplina, confiança, altas expectativas no aprendizado, etc.) para a potencialização dos retornos educacionais.

Heckman além de apontar a importância do desenvolvimento socioemocional dos indivíduos, também destaca que os investimentos em capital humano nos estágios mais iniciais da vida resultam em taxas maiores de retorno que decaem conforme a idade avança , isto é, investir na educação infantil mostra um maior custo-benefício quando comparado com o investimento nas demais etapas educacionais, pois o investimento nessa etapa gera retornos para os indivíduos que perduram ao longo do tempo. Evidências nacionais e internacionais mostram que quem teve acesso a Educação Infantil de qualidade têm, em média, melhor desempenho escolar, maior produtividade no trabalho, menor envolvimento com violência e têm família mais estável. Além desses aspectos, o economista Ricardo Paes de Barros revela que outros benefícios da primeira infância, indicando que o convívio em creches contribui para a redução da raiva e da impulsividade entre crianças.

Em suma, ao longo do tempo os economistas têm estudado a influência da educação em diversas variáveis econômicas de bem-estar individual (como salários) e social (como redução de comportamento de risco). Como consequência das pesquisas, algumas das evidências levantadas foram os efeitos da educação sobre o aumento da produtividade (e consequentemente dos salários), sua relação com envolvimento com violência e criminalidade, assim como a relevância do desenvolvimento de habilidades socioemocionais para os resultados escolares e para a formação dos jovens como alunos e cidadãos e a importância da primeira infância. A educação, portanto, se apresenta como um importante mecanismo de transformação social, sendo o objeto de estudo central do LEPES.

Este é o primeiro de uma trilha textos temáticos para aprofundar o conhecimento sobre educação e as agendas do laboratório.

AUTORES DO TEXTO

Vinicius Princiotti

Vinícius Princiotti

Graduando em Ciências Econômicas pela FEA-RP/USP.
Laura Duarte Ogando

Laura Ogando

Mestranda em Economia pela FEA-RP/USP. Graduada em Ciências Econômicas pela UFRJ.
Thiago Camargo

Thiago Camargo

Graduando em Economia Empresarial e Controladoria pela FEA-RP/USP.