Transição Escola-Trabalho

As evidências brasileiras indicam que há forte descompasso entre aquilo que é ensinado para os jovens brasileiros e as competências e crenças exigidas pelo mundo do trabalho. Por um lado, a produtividade do trabalho está praticamente estagnada no Brasil desde meados dos anos 1980, a despeito de significativo aumento da escolaridade média de nossa população adulta. Por outro lado, é crescente a proporção de jovens economicamente desengajados (dentre os quais se destacam os “nem-nem”, ou seja, aqueles que nem trabalham nem estudam). Do ponto de vista do mercado de trabalho, destino de cerca de 70% dos egressos do ensino médio, a vasta maioria dos primeiros-empregos é precária e com alta rotatividade, com características de ser um mecanismo de seleção empírica daqueles que aprenderam a trabalhar enquanto já estavam no mundo do trabalho. Este ingresso sofrido acarreta não apenas perdas de bem-estar durante a própria idade em que o jovem passa por esta situação, mas também consequências de longo prazo, na medida em que alguns não conseguem transitar para vagas melhores e mais estáveis. Ainda que os documentos oficiais digam que o preparo para o mundo do trabalho é também direito do jovem e dever da escola, nossos currículos têm sido tradicionalmente propedêuticos. Não obstante, mudanças institucionais recentes como a promulgação da BNCC e reforma do ensino médio são importantes janelas de oportunidade que, se devidamente aproveitadas, podem melhorar e muito a vida destes 70% que encerram sua formação no ensino médio.